Narciso Ferreira, filho de uma família de lavradores pobres nasceu a 7 de julho de 1862 tendo falecido em 23 de março de 1933. Muito cedo ficou privado do pai tendo recebido da sua mãe uma educação austera. Apenas com 19 anos de idade, seduzido pela industrialização dos finais do século XIX, conseguiu instalar na casa da quinta onde viviam, em Pedome, dois teares manuais cuja produção vendia nas feiras e mercados das freguesias do Norte do país. Mais tarde, e já com relações comerciais com armazenistas da cidade do Porto, com a sua inteligência e simpatia, captou amizades com comerciantes e banqueiros passando a ser rapidamente muito conhecido e considerado no mundo dos negócios. Por volta de 1887, compra um terreno na margem esquerda do rio Ave, em Riba de Ave, e instala a primeira unidade fabril, em 1890, com 40 teares. Em 1894, constitui uma sociedade comercial com o empresário Manuel Joaquim Oliveira, o banqueiro José Augusto Dias, o engenheiro Ortigão Sampaio e com José Fernandes, proprietário. Esta sociedade foi legalizada por escritura em 1896, denominando-se Sampaio Ferreira & Cia. Lda., com duzentos teares mecânicos alimentados pela energia de um açude construído no rio. Desta sociedade foi o único administrador até ao fim da sua vida.
Seguem-se-lhe outras instalações fabris montadas já com a colaboração dos filhos mais velhos, José, Delfim, Alfredo, Joaquim e Raul. Destacam-se na outra grande fábrica do Grupo, a Oliveira Ferreira & Cia. Lda., criada em Riba de Ave em 1909, depois de fundada a Empresa Têxtil Elétrica Lda., esta em Bairro, no ano de 1905. Também montou e organizou a Sociedade Têxtil de Vila de Conde e a Têxtil de Arcozelo tendo gerido no conjunto das fábricas cerca de 12 mil operários. Para além das empresas têxteis, Narciso Ferreira foi um pioneiro da Indústria Hidroelétrica em Portugal, tendo criado várias empresas que, mais tarde se fundiram na CHENOP (Companhia Hidroelétrica do Norte de Portugal) e que, por ter sido nacionalizada em 1975, passou a integrar a EDP.
Como grande industrial que era, deu aos seus filhos uma educação austera e de elevados princípios morais. De facto, os seus filhos deram seguimento aos negócios por ele iniciados, tanto no aspeto da gestão económica como social. Analisando mais de perto, Narciso Ferreira criou uma cultura de empresa praticamente desconhecida naquela época em todo o país.
Assim, e para expandir e assegurar esse lado social, implementou um plano de apoio contínuo às famílias mais pobres e carenciadas. Este papel viria a ser determinante na criação da Fundação Narciso Ferreira em 1945, que passou a exercer uma ação humanitária de relevo.
Tendo ultrapassado várias conjunturas sócio-económicas, assim como políticas, a Fundação Narciso Ferreira procurou sempre lembrar a obra do seu patrono e nos 100 anos do seu nascimento organizou a “Bolsa Centenário”, cuja finalidade era eliminar a pobreza arcando com as verbas mensais que possibilitavam aos mais necessitados o acesso a uma melhor educação. Também no centenário do nascimento de Raul Ferreira, Conde de Riba de Ave, promoveu-se uma merecida homenagem ao filho de Narciso Ferreira que mais se empenhou na direção desta instituição, tendo sido seu administrador até ao seu falecimento em 9 de maio de 1974.
Ainda no âmbito da memória coletiva, ficará também a homenagem do sesquicentenário do nascimento de Narciso Ferreira, celebrado efusivamente em 2012.
Entretanto, com o encerramento das fábricas ao longo dos tempos, a Fundação Narciso Ferreira passou a viver apenas do rendimento do seu património. Continua a prestar um valioso serviço à população de Riba de Ave e das freguesias adjacentes, nomeadamente com apoios de ordem social e com projetos culturais e educacionais.
Dos vários projetos executados ao nível do património edificado, salienta-se a manutenção de diversos empreendimentos, como o projeto de reconversão das Escolas Primárias Narciso Ferreira em Pólo da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, a recuperação do Mercado, a transformação do antigo Posto da GNR para em 2017 receber uma Escola de Música e a sede da bicentenária banda filarmónica de Riba de Ave.
Já em 2022, destaca-se a re-inauguração do Cine Teatro Narciso Ferreira em parceria com o Município de Vila Nova de Famalicão, uma obra de avultada importância para a região e população local, trazendo novamente à vida este belíssimo edifício dos anos 40 do século passado.